Antes de sua morte, há
poucos meses, o bispo dom Gabriel Paulino Bueno Couto deixou esta mensagem aos
católicos de Jundiaí, refletindo sobre o Dia de Finados.
Por que o Dia de Finados? Sem
dúvida, ninguém vai responder que o Dia de Finados é para a gente se lembrar
dos mortos e ficar pensando e chorando de saudades. Sentir saudades dos nossos
mortos é tão humano! Mas não é só para isso que em toda a parte se celebra o
Dia de Finados, os cemitérios regurgitam
de gente... Chorar alivia os que ficam, mas não os que se foram.
Adornam-se
os túmulos de flores: seu perfume, suas cores, traduzem os sentimentos de
carinhoso amor com que alguém desejaria aquecer a laje, a terra fria, que
recobre as cinzas de uma pessoa amada... Mas ela não está ali. De seu corpo ali
depositado só resta um pouco de pó. Por acaso não ressoou insistente aos
ouvidos de todos, no dia das Cinzas, a palavra de Deus: “Tu és pó e em pó te
hás de tornar?”
Mas entre as
flores que as lágrimas de saudades orvalham, brilha viva a chamazinha de uma,
de duas, de muitas velas. As mesmas mãos que enxugaram lágrimas, que de flores
adornaram os sepulcros, as acenderam. Choram seus mortos. À música de mimosas e
coloridas flores embalam e fazem adormecer as saudades. A oração fervorosa pelos
mortos dissipa, então, com o brilho suave de inúmeras velas, as sombras que
pairam sobre as sepulturas, a fé ilumina a morte e a transfigura. Não disse,
por acaso, Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida; o que crê em mim, ainda
esteja morto, viverá”?
O homem
nasce uma vez só aqui nesta terra. Nela vive um só período e encerra sua vida
com a morte: “Está decretado aos homens que morram uma só vez, e que depois
disso se siga o juízo”.
É palavra de
Deus que existe o inferno, eternidade de tormentos, e o céu eternidade de
felicidade.
Mas pode
alguém morrer nem inteiramente mau, nem inteiramente justo: não morre, de fato,
em estado de pecado mortal, mas está com sua alma ainda comprometida, em
situação que contrasta com a santidade de Deus, diante de quem os anjos,
espíritos puros, velam seus rostos e cantam: “Santo, santo, santo, é o Senhor
dos exércitos”.
É por estes
nosso irmãos, conhecidos ou desconhecidos, que os cristãos católicos fazem suas
orações, participam das celebrações da Eucaristia (missa e comunhão), dão sua
pequena ou grande contribuição para o alívio de seus irmãos pobres da terra. É,
de fato, palavra de Deus: “É um pensamento santo e salutar rezar pelos defuntos
para que sejam perdoados de seus pecados”. Assim nos ensina nossa Santa Igreja
que, aqui na terra, “desde os primórdios da religião cristã, venerou com grande
piedade a memória dos defuntos”.
Nós que aqui
vivemos, filhos de Deus, fazemos um família só, a família de Deus, com os que
nos precederam na eternidade, já felizes na visão da face de Deus, no céu, ou
ainda purificou-se no purgatório, de tudo o que os impede de contemplar a face
de Deus”.
É em Cristo
Jesus que nos sentimos unidos, nós aqui na terra, com os que morreram na graça
de Deus. Para nós e para eles, o mesmo mandamento de Cristo: “Eu vos dou um
novo mandamento que vos amei uns aos outros, assim como eu vos amei para que
vós também mutuamente vos ameis”.
O nosso amor
aos que estão no céu, é de louvor a Deus Pai pela glória e felicidade eterna,
de que, em Cristo, os cumulou; aos que ainda padecem no purgatório, é de
súplica a Deus Pai, para que, purificados pelo sangue de Cristo, sacie-lhes sem
mais tardar a sede que os devora, de contemplar a sua face!
A Virgem
Imaculada, Mãe de Deus, Maria, interceda por nós, peregrinos ainda neste vale
de lágrimas, para que, perdoando-nos uns aos outros, vivamos de Deus em Cristo,
e, em Cristo, amando-nos uns aos outros, vivamos a grande esperança da
plenitude da glória de Filhos de Deus!
Dom Gabriel Paulino Bueno Couto,
O.C
Publicado no Jornal Jundiaí Hoje em 02/11/1982